top of page

A situação da população negra em tempos de pandemia

A exemplo do que ocorre nos Estados Unidos, nesses tempos de pandemia do coronavírus, a situação da população negra no Brasil é assustadora e pelas informações disponíveis tende a se agravar ainda muito mais.

Ainda em relação aos Estados, reportagem publicada em 13/04 pela BBC News Brasil nos informa que, em Washington, 60% das mortes pelo coronavírus até agora foram de pacientes negros, apesar de apenas 46% dos residentes pertencerem a esta etnia. O mesmo ocorre em outras cidades e regiões do país, como os estados da Louisiana, Michigan e Illinois, com um arraigado histórico de desigualdade social entre negros e brancos, onde a situação é muito parecida. Em Chicago, diz a reportagem, “apenas 15% da população é negra, mas 35% dos casos e 40% das mortes foram de pacientes afro-americanos”.


Aqui no Brasil, com base nas informações disponíveis do Ministério da Saúde, e considerando a alta vulnerabilidade que historicamente os afrodescendentes econômica e socialmente enfrentam, a tendência é piorar. A desigualdade de renda entre as classes sociais e, principalmente, entre negros e brancos, além de permanecer, vem aumentando nos últimos anos. Tanto em relação os indivíduos do sexo masculino quanto feminino.


Segundo o estudo “Desigualdades sociais por cor ou raça no Brasil”, divulgado em 13/11/2019, pelo IBGE, são amplas e profundas as inúmeras diferenças relativas à escolaridade, emprego e renda entre negros e brancos. Essa diferenciação acaba por se refletir nas suas “condições de moradia, escolaridade, acesso a bens e serviços, além de estarem mais sujeitos à violência e terem baixa representação em cargos de gerência”.


Em 2018 o salário médio mensal das pessoas brancas era de R$ 2.796,00. Para a população preta e parda não ultrapassava R$ 1.608,00. Uma disparidade de 73,9%. Já em relação às mulheres negras a diferença era ainda mais gritante, vez que recebiam menos da metade (44%) em termos de salário, se comparado ao rendimento médio dos homens brancos. Situação que tem se agravado com as reformas trabalhista e da Previdência, o desmonte dos direitos, promovidas pelo governo Michel Temer (2016-2018) e agora por Jair Bolsonaro.


O resultado dessa situação é o aumento da vulnerabilidade entre grupos sociais e étnicos, com reflexo na localização territorial onde residem e na precariedade da vida, de modo geral, com destaque ao pouco espaço das habitações, em regra precários, e ainda a ausência de saneamento básico, limitação do uso da água potável, a péssima qualidade do transporte público de passageiros e dos serviços de saúde. Especialmente nesses tempos de pandemia os grupos com alto índices de pobreza e miserabilidade são os mais atingidos.


É certo que a expansão do coronavírus no Brasil teve início junto às classes sociais brasileiras ricas, mas os números vêm mostrando um crescimento até descontrolado entre as camadas sociais mais vulneráveis. Mapeamento feito recentemente pela Rede Nossa São Paulo, com base em dados do sistema do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) de fevereiro último, revelou que as regiões centrais e ricas da cidade de São Paulo, a saber: Sé, Pinheiros e Vila Mariana, concentram 60% dos leitos de UTI.


Ressalte-se, porém, que conjuntamente esses bairros comportam 9,3% da população da capital. Entretanto, nas franjas da cidade, mais especificamente os bairros Aricanduva, Jaçanã, Parelheiros, Lapa, campo Limpo e Cidade Ademar é zero a quantidade de leitos de UTI, enquanto juntos concentram 20% da população residente (2,3 milhões de pessoas). Em cinco desses bairros a população negra alcança 32%. Percentual acima da media da cidade.


Por outro lado, essa desigualdade e precariedade são ignoradas e agravadas pela pressão exercida por setores patronais oligopolizados, aliados à especulação financeira, em defesa do fim isolamento social em que se encontra parcela da classe trabalhadora, com vistas a que voltem ao trabalho em prejuízo da sua vida.


Do nosso ponto de vista o ideal é que haja mobilização da sociedade organizada para que os trabalhadores e trabalhadoras permaneçam em suas casas, enquanto dure a pandemia, e o Estado assuma, sem mais delongas, a função de provedor por meio da adoção de programa emergencial eficiente e justo de renda básica aos trabalhadores, bem como financiamentos de baixo custo, ou mesmo a fundo perdido, aos micros, pequenos e médios empresários.


Considere-se, pois, que este quadro aterrador está se dando às vésperas de mais um Primeiro de Maio - Dia Internacional dos Trabalhadores - em meio à crise agravada pelo coronavírus, quando se espera que os governos federal, estaduais e municipais assumam a responsabilidade por apresentar medidas de modo assegurar a manutenção da vida e, não como vem fazendo o presidente da República, Jair Bolsonaro, que tem tratado com desdém essa questão e, de modo irresponsável, incentivando as pessoas a se exporem a risco da contaminação pelo vírus e, consequentemente, à morte.

Autores

bottom of page