Dirigentes participam de aula do Professor e Historiador José Raimundo
- imprensa090
- há 2 dias
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Na aula de formação sindical de hoje foi discutido a pesquisa "Percepções e Valores Políticos nas Periferias de São Paulo", realizada pela Fundação Perseu Abramo, teve como principal objetivo entender como se forma a visão de mundo e o imaginário social das populações que vivem nas periferias da capital paulista. A intenção era não apenas mapear os valores e percepções dessas comunidades, mas também fornecer subsídios para a reflexão e atualização do projeto político do Partido dos Trabalhadores, além de fortalecer a disputa de valores na sociedade.
Para isso, a pesquisa utilizou uma abordagem qualitativa, com 63 entrevistas em profundidade e cinco grupos focais. Os entrevistados eram moradores de bairros periféricos, com renda de até cinco salários mínimos, em sua maioria entre 18 e 44 anos. Todos tinham histórico de voto no PT entre 2000 e 2012, mas haviam deixado de votar em Fernando Haddad (2016) ou em Dilma Rousseff (2014). A pesquisa incluiu também beneficiários e ex-beneficiários de programas sociais como Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida e Prouni.
Os resultados revelam uma série de transformações profundas na forma como a população das periferias se relaciona com a política, o Estado e os valores sociais. De modo geral, há um afastamento do debate político institucional, que é percebido como algo distante, confuso e contaminado pela corrupção. A política é vista como "tudo igual" e o Estado é identificado como o verdadeiro inimigo – ineficiente, burocrático e ausente. Ao mesmo tempo, a mídia tradicional ainda tem grande influência sobre a formação de opinião.
Outro ponto central da pesquisa é a forte valorização do mérito individual. A ideia de que “com esforço tudo se alcança” é amplamente aceita, mesmo entre os que reconhecem as desigualdades de origem. Histórias de sucesso pessoal, como as de Lula, Silvio Santos e João Dória Jr., são admiradas justamente por representarem trajetórias de superação. Políticas públicas são bem avaliadas quando funcionam e geram resultados concretos, mas são vistas com desconfiança quando parecem “premiar” quem não se esforça.
A família, a religião e o território aparecem como os principais pilares da vida nas periferias. A família é entendida como o alicerce moral e afetivo; a religião, sobretudo as igrejas neopentecostais, cumpre papel de acolhimento, orientação e sociabilidade e o bairro representa identidade e pertencimento, especialmente entre os mais velhos. Já os jovens tendem a desejar mobilidade para regiões mais centrais e estruturadas.
O consumo e o empreendedorismo também ocupam lugar de destaque na construção de identidade. O consumo é visto como sinal de distinção e conquista pessoal, enquanto o empreendedorismo é idealizado como caminho para a independência financeira e o sucesso. No entanto, o emprego formal com carteira assinada ainda é muito valorizado, principalmente pela segurança que oferece em termos de direitos e estabilidade.
Em termos de orientação política, o que se observa não é um conservadorismo clássico nem um neoliberalismo enraizado, mas sim um tipo de "liberalismo popular". Trata-se de um conjunto de valores que prioriza o sucesso individual, a concorrência e o esforço pessoal, ao mesmo tempo em que reconhece a importância de políticas públicas eficazes e igualitárias. As pessoas desejam menos um Estado ausente e mais um Estado que funcione, que devolva em serviços aquilo que arrecada em impostos.
A pesquisa conclui que, para se comunicar com esses segmentos sociais, é necessário reconhecer o papel central do mérito, da família, da religião e da segurança na constituição das subjetividades populares. Desprezar essas dimensões como se fossem meramente conservadoras é um erro. A política precisa se aproximar da vida concreta, das expectativas e das experiências cotidianas dessas pessoas, propondo alternativas que respeitem seus valores e, ao mesmo tempo, apontem caminhos coletivos para o futuro.
Comunicação STILASP 🤝